Ilusões Ópticas em Odontologia Estética

          Todas as sensações ou impressões visuais envolvidas nas apreciações estéticas são dependentes parcialmente da percepção visual do observador. A percepção é dependente de uma das estruturas mais complexas e perfeitas do corpo humano, os olhos, que a despeito de sua maravilhosa capacidade de discernimento, várias vezes podem ser induzidos a erros de interpretação, causando as chamadas ilusões ópticas.


            Pilkington talvez tenha sido o primeiro autor a interessar-se pelas ilusões de óptica no campo da odontologia, definindo que alterações superficiais nos dentes poderiam levar a uma condição que pudesse se assemelhar mais ao dente natural.

               O tamanho e a forma de um dente, particularmente seu comprimento e sua largura podem parecer em desequilíbrio com a normalidade. Muitas vezes, as técnicas que seriam consideradas ideais para a correção destes desequilíbrios envolvem procedimentos que são desproporcionais ao problema apresentado. Para estas situações é que existem os processos de criação de efeitos de ilusões ópticas. A capacidade de fazer com que um dente se pareça mais fino ou mais amplo, menor ou maior, constitui um auxílio inestimável na resolução de difíceis problemas clínicos.

            As técnicas utilizadas para aplicar os princípios universais das ilusões ópticas nos dentes atuam através da modificação do contorno dos dentes e de sua textura superficial e através da manipulação deliberada das cores na superfície dental.

             Conforme alteramos a silhueta da borda incisal dos dentes podemos criar ilusões de tamanho dos dentes, conforme observado na figura a seguir. Além disso, a comparação de dentes com diferentes comprimentos pode gerar ilusões quanto à largura destes, tendendo a que o mais longo seja visto como mais estreito.

a                                                              b                                                                          c
Diferentes aberturas das ameias incisais podem criar a ilusão de um dente mais largo (b) ou mais estreito (c)


Diferentes comprimentos dos dentes induzem à ilusão de diferentes larguras.

                  Um dos principais recursos de que se dispõe para a criação de ilusões de tamanho nos dentes é a textura superficial e a área plana da superfície vestibular. Sabe-se que quanto maior a reflexão da luz, maior será a visibilidade dos elementos dentários, desta forma, ao criar uma área plana de maior amplitude pode-se criar um efeito ilusório de alargamento do dente, ao diminuirmos a área plana, aumentando a dispersão da luz refletida o dente tende a parecer mais estreito. As mesmas regras aplicadas na direção horizontal também valem para a direção vertical, sendo possível através da modificação da área plana, criar a percepção ilusória de um dente mais longo ou mais curto.

            O destaque dado a linhas nos sentidos horizontal ou vertical também tende a enfatizar estas dimensões nos elementos dentários. Goldstein demonstra esta afirmação através do exemplo abaixo onde, apesar de parecer o contrário, os dois elementos dentários têm tamanhos iguais tanto no sentido horizontal quanto no sentido vertical. Portanto, como citado por Rufenacht:

§         Linhas verticais destacam a altura
§         Linhas horizontais destacam a largura



Exemplo de como as linhas podem influenciar a percepção visual.


               O último recurso a se lançar mão para uma tentativa de percepção ilusória dos elementos dentais são as alterações na coloração. As cores, além de possibilitarem a inclusão de linhas de destaque em algum dos sentidos da coroa, também podem ser utilizadas para destacar ou esconder alguns aspectos da forma dos dentes, bem como sua largura ou comprimento aparente. Neste sentido Rufenacht destaca outros dois parâmetros:

§         As sombras criam profundidade
§         A luz cria proeminências
               
              Apesar de as ilusões ópticas serem recursos valiosos na prática clínica, elas devem ser consideradas apenas quando os reais tratamentos para aquele problema já tiverem sido considerados e descartados. Segundo Goldstein a melhor ilusão é a falta de ilusão.

             O entendimento dos complexos sistemas da visão é semelhante ao entendimento de todos os fatores relacionados à estética apresentados durante o decorrer deste trabalho. São complexos, extenuantes e, em muitas vezes, de difícil compreensão. Porém, com a assimilação do funcionamento básico destes sistemas temos plenas condições de tirar proveito de situações inesperadas, fazendo com que as ilusões trabalhem a nosso favor. Assim ocorre também com os fundamentos da Estética na Odontologia; o esforço e a dedicação necessários para sua compreensão rendem frutos que são infinitamente mais compensadores que todo o tempo e dedicação envolvidos para o seu real e completo entendimento.